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Câncer infantojuvenil é a maior causa de mortes entre a faixa etária de 5 a 19 anos

Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a chance de cura

 

A Fundação do Câncer estima que o câncer infantojuvenil tem até 80% de chances de cura se diagnosticado precocemente. Os sintomas são muitas vezes inespecíficos, podendo ser confundidos com outras doenças mais comuns dessa faixa etária. “Os mais comuns entre crianças e adolescentes são as leucemias, tumores do sistema nervoso central e linfomas, seguido por neuroblastoma, tumores renais e sarcomas ósseos e de partes moles”, explica o oncologista pediátrico Eduardo Ribeiro Lima, do hospital Mater Dei.

De acordo com Karine Corrêa Fonseca, médica oncologista da Oncobio do Hospital Biocor, é imprescindível o acompanhamento pediátrico desde cedo. “Para crianças típicas e saudáveis, um bom acompanhamento pediátrico de rotina é a prioridade. Orientação sobre alimentação saudável, o seguimento correto da imunização conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, e orientação sobre fatores de risco ambiental (exposição excessiva ao sol, tabagismo e abuso do álcool em adolescentes)”, exemplifica.

PEQUENAS GUERREIRAS

Rebeca Dias Ferreira, de 3 anos, foi diagnosticada com um tumor na cabeça. A mãe, Eletheia Dias Ferreira, de 44, enfermeira e professora de enfermagem, conta que percebeu algumas anormalidades em relação à saúde da filha. “A Rebeca tinha vômitos, estava muito agitada e eu também notei que a circunferência da cabeça dela era anormal. Decidi levá-la ao neurologista, mas o médico disse que não pediria uma ressonância e que a cabeça dela era grande porque a minha também era. Mesmo assim, insisti e ele me passou o pedido. E no exame constatou um tumor na cabeça”, relembra a mãe.

Elas são naturais de Teófilo Otoni e precisaram vir para Belo Horizonte tratar a doença. “Viemos para Belo Horizonte logo. Ela fez a primeira cirurgia, mas o tumor não parava de crescer, ela fez outra cirurgia, perdeu muito sódio e saiu sem enxergar”, conta a mãe. Hoje, a menina já apresenta um quadro de melhora. “Ela ainda está em tratamento de quimioterapia, o tipo de tumor que apresenta não reage à radioterapia. Na última ressonância, o tumor diminuiu mais de 50%, saindo de 8cm para 3,1cm. E também começou a desenvolver a visão periférica do olho direito”, conta animada a mãe, que divide a rotina entre Belo Horizonte e a cidade natal, viajando de 24 em 24 dias para acompanhar o quadro clínico da filha.

Outro exemplo de luta diária é o de Mirela Gabriela de Souza Mesquita, de 14. A mãe da adolescente morreu de câncer, com 42 anos. Hoje, é a irmã Sandra Regina Aparecida de Souza Rodrigues, de 23, quem a acompanha no tratamento da doença. A mãe teve câncer, descobriu por volta dos 38 anos e morreu aos 42, quando Mirela já estava em tratamento. “Minha irmã sentia muita dor de barriga e febre por dentro. Levamos ela ao médico, ele suspeitou de apendicite, mas no momento da cirurgia do apêndice detectou o tumor, fez uma biópsia e mandou para Pouso Alegre. Graças a Deus, o gestor da nossa cidade (Jesuânia- MG) arrumou um apoio para nós em Belo Horizonte”, lembra a mãe.

Sandra largou o emprego de vendedora para cuidar da irmã. “Na primeira etapa do tratamento, ela curou, depois nossa mãe faleceu. Logo depois, Mirela teve uma recaída e descobrimos que a evolução do neuroplastoma é constante. O médico disse que em uma escala de 1 a 4, o estágio dela é 3”, completa Sandra. Mirela trata o tumor há cerca de 4 anos.
IMPACTO

O pediatra também precisa ficar atento aos sintomas que podem levar ao câncer infantil. É importante que o pediatra conheça os principais tipos de câncer que acometem crianças e adolescentes para fazer o diagnóstico precoce e encaminhar rapidamente para centros de referência do tratamento da doença. “Isso terá grande impacto no aumento da chance de cura dos pacientes”, diz Eduardo Ribeiro. Também é necessário ficar ligado aos grupos de risco. “Na faixa etária pediátrica, embora os tumores sejam geralmente esporádicos e sem causa definida, é possível, em uma parcela dos casos, determinar um grupo de risco para o desenvolvimento das neoplasias na infância: crianças com doenças genéticas, malformações congênitas, imunodeficiência congênita ou adquirida, algumas infecções virais crônicas e, em menor proporção, fatores ambientais. Assim, para as crianças e adolescentes sabidamente de risco, há indicação de acompanhamento com onco-hematologista pediátrico e realização de exames de rotina (laboratoriais e imagem, dependendo de cada caso)”, alerta Karine Correa.

 

Câncer Infantil x Câncer Adulto 
As diferenças entre cânceres em crianças e adultos são tão grandes que podem, até mesmo, ser consideradas doenças diferentes. No adulto, o desenvolvimento do câncer está em geral associado a elementos agressores do ambiente, como o cigarro, produtos químicos e a exposição aos raios X. Já na criança, o surgimento do câncer costuma ter relação com erros de formação, que ocorrem ainda no útero. Como as células estão em crescimento, os tumores em crianças se desenvolvem rapidamente, colocando em destaque a importância da realização de um diagnóstico precoce.

Ajuda e apoio são fundamentais

O câncer é uma doença que afeta pessoas de diferentes idades, sexo e classes. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), 1,2 milhão de novos casos devem surgir no Brasil entre 2018 e 2019. O tratamento pode ser complicado, de forma que buscar um apoio é essencial para o paciente.

O Instituto Beaba é um desses espaços que oferecem ajuda e apoio para os pacientes, principalmente para as crianças. A ONG é fruto da iniciativa de Simone Mozzilli, formada em comunicação e pós-graduada em tecnologia da informação, além de ser uma ex-paciente oncológica. Ela sempre teve o hábito de fazer trabalhos voluntários com crianças com câncer em hospitais e casas de apoio. Mas, apesar de estar cercada por pessoas que conviviam com essa doença, foi uma grande surpresa descobrir que estava com câncer. “Fui retirar um cisto do ovário. Em tese, era para ser uma cirurgia rápida e objetiva, mas acordei 10 horas depois na UTI, diagnosticada com câncer em estágio avançado. Tudo que eu passava como acompanhante das crianças, agora passaria como paciente.”

O tratamento durou oito meses e, durante esse período, Simone percebeu que os materiais utilizados, tanto impressos quanto digitais, para explicar sobre o câncer mais amedrontavam do que ensinavam e motivavam. Dessa forma, ela resolveu utilizar seu conhecimento em comunicação e como paciente oncológica para criar o Instituto Beaba.

SUPERAÇÃO

Como o objetivo do instituto é desmistificar a doença para crianças, familiares e para a sociedade, a ONG oferece vários serviços nesse sentido. No Beaba, são desenvolvidos projetos como o guia Beaba câncer e ações como o “Beaba camping”. Todos os projetos realizados têm a mesma missão: desmistificar o câncer e informar de maneira clara, objetiva e otimista sobre a doença e o tratamento. “Isso transforma o paciente de agente passivo a empoderado, engajado no tratamento, o que melhora a qualidade de vida dele e de todos que estão à sua volta.”

GAME

O guia fez um grande sucesso entre os pacientes que estão lutando contra o câncer, e como forma de difundir e aumentar o alcance da cartilha, Ludmilla Rossi, parceira do Instituto Beaba e também ex-paciente oncológica, teve a ideia de transformá-la em um jogo. O game foi desenvolvido num processo que envolveu desde a criação de arte, roteiro e conteúdo voltado para profissionais da saúde e pacientes. Ludmilla Rossi, cofundadora da Mukutu, desenvolveu o jogo Alpha beat cancer, que tem o objetivo de desmistificar o câncer para as crianças.

O app, que pode ser encontrado tanto no iOS quanto no Android, contém 20 minigames que explicam para as crianças alguns conceitos fundamentais como o que é câncer ou quais são os tipos de exame. Além disso, os pacientes utilizam o jogo como o instrumento de aprendizagem, uma vez que é uma ferramenta que gera um grande impacto e empatia.

Na visão de Ludmilla, o mais importante de tudo é o recado que o jogo passa contra o preconceito. “As pessoas têm medo de falar sobre câncer. Quanto mais se fala sobre a doença, mais cedo é feito o diagnóstico e assim ajuda a acabar com o preconceito”, explica. Outro ponto importante é que o game gera identificação nas pessoas que sofrem com a doença.

 

Fonte:   Aline Lourenço* e Bruna Curi* – Estagiárias sob a superv. da editora Teresa Caram / Jornal do Estado de Minas.    Disponível em:<https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2018/12/08/noticias-saude,238309/cancer-infantojuvenil-e-a-maior-causa-de-mortes-entre-a-faixa-etaria-d.shtml> em 08.12.18.