Biblioteca Virtual em Saúde
Biblioteca Virtual em Saúde
Tutorial
Biblioteca Virtual em Saúde

BVS Adolec Brasil

Congressos na Paraíba: Jovens pedem mais diálogo, respeito e incentivo da sociedade e dos governo

“Nós somos chamados de irresponsáveis. Dizem que temos que usar camisinha, mas já dizem que não usamos. O atendimento em saúde começa na pediatria e passa para as especialidades, ninguém de fato pensa no jovem. Quem realmente dialoga com o jovem?”, questionou Henrique Ávila, coordenador da Rede de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, durante a mesa que teve como tema “Protagonismo Juvenil: Importância dos Trabalhos de Base Para o Fortalecimento das Redes de Jovens”, durante o 10º Congresso de HIV/Aids e 3º Congresso Brasileiro de Hepatites Virais, na  quarta-feira (18), no Centro de Convenções de João Pessoa, na Paraíba.

“A prevenção clássica [camisinha] não é a única maneira de prevenção, senão a epidemia já teria acabado”, disse Alicia Krünger, técnica do Departamento de Prevenção e Núcleo Jovem do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (DDAHV).   “A mulher pobre que não estudou e faz programa, se ela tiver um cliente que não quer usar caminha e vai pagar mais por isso, ela não vai usar a camisinha. E ela pode se infectar. A informação sobre outras formas de prevenção tem que chegar a ela.”

A adesão do jovem ao tratamento

“É necessário meios de se pensar melhor na adesão. Se um jovem [portador de HIV] morre ou se acontece uma transmissão vertical, já jogam a culpa nos movimentos sociais. Mas são as políticas públicas que precisam resolver isso. São necessárias políticas positivas que dialoguem com os jovens”, disse Henrique.

Fabiana Mesquista, consultora para projetos relacionados à juventude e à iniciativa #ZeroDiscriminação do Unaids ((Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids) e mediadora da mesa, lembrou dos jovens vulneráveis que não têm  expectativas de vida e por isso não fazem o tratamento:  “O jovem que sofre preconceito por ser gay, negro, mora na periferia e vive em um ambiente de violência doméstica é diferente do jovem que tem uma vida perfeita, classe média alta. Tem o efeito colateral do tratamento e a falta de emprego. Agora, se ele trabalha e inicia o tratamento, ele vai faltar por causa dos efeitos colaterais. A sociedade enxerga ele como um carimbador em potencial. Então, nessas condições é comum ele dizer ‘vou tomar remédio pra quê? Minha vida já é uma droga!’. Não dá para a abrir a boca dele e colocar remédio. Ele já sofre por tudo isso. Ele precisa ter amor a vida e a gente precisa incentivar esse amor para que ele queira viver”.

“Só o governo federal e a ONU (Organização das Nações Unidas) apoiam os jovens, poucos estados ajudam, batem muitas portas para nós. Até nossas experiências são ignoradas”, relatou Henrique ao falar sobre uma discussão que participou e, por ser jovem, sua fala não foi considerada.

Boa parte dos jovens que estavam na plateia fizeram o curso Formação de Novas Lideranças das Populações-Chave Visando o Controle Social do Sistema Único de Saúde no Âmbito do HIV/Aids, do DDAHV. Alícia explica que além do curso que acontece em Brasília, o Departamento também atua nos estados onde a epidemia está aquecida, e que, nos novos planejamentos estão inseridos o Rio de Janeiro, Porto Alegre e Rio Grande do Sul. “A gente está investindo na juventude porque ela quer mudar e tem o gás para isso. Os relatórios que eles enviam ao Departamento mostram essa vontade!”

Ações entre pares

Os jovens também mostraram que a estratégia de trabalhar entre pares é uma importante aliada na luta contra a epidemia e o preconceito. Luis Fernando Benicio, da Rede Cearence de Redução de Danos, contou sobre ações realizadas no Ceará com essa metodologia. “Em 2005, nos festivais do estado, começaram a surgir muitas mortes. Nesse momento, houve uma mobilização para atuar na redução de danos nesses eventos: o Balance. Hoje, através do trabalho voluntário dos usuários e ativistas, ela está nas festas eletrônicas do estado e ampliou para o Coletivo Balanceará”, destacou.

Agora, o Balance está sendo ampliado para a Rede Cuca, um projeto da prefeitura de Fortaleza que atende jovens em situação de vulnerabilidade, “em que iremos atuar com pessoas em situação de rua. Temos ocupado lugares e pensado nas pessoas e não nas instituições.”, disse Luis.

Novo recorte do boletim epidemiológico

Alícia apresentou os dados epidemiológicos de HIV entre os jovens e observou que até hoje travestis e transexuais estão inseridas juntamente com os HSH (Homens que fazem Sexo com Homens). “Não somos homens, somos mulheres. Eu sou uma mulher trans. Por muito tempo, não tivemos esse recorte, mas os próximos estudos terão. Afirmo isso porque o material já passou pela minha mão”.

 

Fonte: Daiane Bomfim / Agência de Notícias da Aids.

Disponível em: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/24154#.VlLwb7_QMpM 

20/11/15