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Jovens somam 47,9% dos novos casos de HIV registrados em Sorocaba

Os jovens já representam 47,9% dos novos casos de HIV registrados em Sorocaba, região metropolitana de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Saúde (SES). Entre janeiro e agosto de 2016 foram 121 novas infecções, sendo que 58 casos eram de pessoas entre 15 a 29 anos. Para especialistas o número é preocupante, pois os jovens conhecem as formas de prevenção, mas optam por não utilizá-las. A presidente do Grupo de Educação à Prevenção da Aids em Sorocaba (Gepaso), a advogada Maria Lucila Magno, acredita que eles acabam não usando a camisinha devido ao sentimento de “invencibilidade da juventude e a falta de estímulo familiar”.

HIV em Sorocaba

Até agosto de 2016, o número de novos casos de HIV foi maior entre pessoas acima de 30 anos, com 63 novos casos registrados. No mesmo período do ano passado, porém, os casos de jovens ultrapassou os de adultos, sendo que entre 15 e 29 anos foram 67, e acima de 30 anos, 65 casos. Segundo a SES, o motivo maior dos casos entre jovens continua sendo a falta de prevenção.

Os dados mostram ainda que o número total de novas infecções é menor em 2016 do que o registrado de janeiro a agosto de 2015, quando 132 pessoas foram diagnosticadas na cidade. Durante todo o ano passado foram 197 casos, enquanto em 2014 foram 150 novos registros.

O desafio da juventude

A presidente do Gepaso conta que o desafio é fazer com os jovens adotem o hábito de usar a camisinha. Lucila, que realiza palestras e outras ações de conscientização, percebe que os jovens sabem o que é o preservativo, para que serve, onde obtê-lo e — com a internet — tem facilidade para procurar sua forma de uso. Para ela, o problema é que eles optam por não usar a camisinha. A advogada relaciona esse comportamento ao sentimento de “poder tudo” e ainda aos que se deixam levar pelo romance.

Em sua avaliação, falta educação sexual familiar em um sentido amplo, que introduza na vida do jovem o hábito desse cuidado com a saúde. Ela relata que muitos pais temem que falar sobre o assunto vá “despertar a sexualidade” dos filhos. “Mas se você não fala, a internet fala”, alerta. A advogada revela que muitas vezes, ao dar palestras em escolas, alunos recebem ordens dos pais para não acompanhar a formação.

A presidente do Gepaso lembra que a transmissão de mãe para filho não tem acontecido e que o programa municipal DST/AIDS consegue proporcionar bom atendimento aos infectados. Porém, ressalta que o ideal é a prevenção.

“Não é pela aparência que você sabe quem tem o vírus”

Aos 22 anos, após realizar uma doação de sangue, João* foi contatado pela clínica para realizar novos exames. Assim como os testes iniciais, os secundários confirmaram o diagnóstico de HIV. O porteiro revela que, apesar de descuidos quanto à prevenção, nunca imaginou que isso aconteceria. “A gente sempre pensa o bem das pessoas. Mas não é pela aparência que você sabe quem tem o vírus”, afirma. Ele acredita que tenha se infectado por meio de relações sexuais sem proteção, mas não sabe dizer quando ou qual parceira era portadora do vírus.

Com o choque da descoberta, conta que não realizou o tratamento corretamente por um tempo, até que sintomas começaram a se manifestar. “Apareceram machucados na boca”, lembra. Os ferimentos foram o empurrão que precisava para levar a doença a sério. “Falei: preciso me cuidar”, relata.

A companheira da época, no entanto, não teve os mesmo cuidados com o tratamento e morreu em decorrência do vírus. Antes, tiveram dois filhos que com o acompanhamento correto não foram infectados.

Hoje, 24 anos após o diagnóstico, leva uma vida normal no trabalho e convívio familiar. A rotina, no entanto, envolve consultas médicas, vários remédios e terapias na academia do Gepaso. João espera que os filhos se protejam, por conta da experiência que têm em casa com o vírus. Porém, admite que não fala com os rapazes de 24 e 17 anos sobre prevenção. “Tem esse constrangimento de bater esse papo com os filhos”, revela.

Maria* descobriu que era portadora do HIV aos 25 anos. O contágio aconteceu por meio de um namorado. “Você confia naquela pessoa, mas não sabe com quantas pessoas ela andou”, diz. Na época do diagnóstico pensava que a morte era o único destino. Atualmente, com 53 anos, é uma esportista que faz caminhadas, participa de corridas e, recentemente, passou a fazer natação. Além de tudo, ainda é ativa em sua comunidade religiosa e participa de ações de prevenção ao HIV, ressaltando a importância de que todos realizem testes que detectam as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).

Os testes de HIV podem ser feitos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) sem a necessidade de agendamento.

O Gepaso fornece auxílio jurídico e assistência social para portadores de HIV/aids da cidade e ainda mantém uma academia para o uso dos assistidos. A sede da ONG fica na rua Dr. Nogueira Martins, 383, onde também funciona um bazar que contribui para a manutenção das atividades. O local aceita doações, que são utilizadas para venda no bazar ou destinadas diretamente aos assistidos. O telefone para contato é (15) 3233-3010.

*Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.

Fonte : Cruzeiro do Sul / Agência de Notícias da Aids. Disponível em: < http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/25359 >. em 12/09/16.