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ONGs/aids que trabalham com a juventude contam suas experiências no curso de Participação Juvenil, Ativismo e Direitos Humanos em HIV/Aids no Estado de SP

“Lembre-se de buscar formação e informação, e, principalmente, refletir sobre o que é participar, representar e pertencer. Transformar a sociedade é um sonho bacana, mas dá trabalho. Tem briga, divergência e chateação, mas tem também cidadania, direito, amizades e solidariedade”, a citação de Bete Franco foi dita por Andrea Ferrana, do Grupo de Incentivo à Vida (GIV) no painel sobre Relato de Experiências com as Juventudes, neste sábado (9), durante o curso Participação Juvenil, Ativismo e Direitos Humanos em HIV/Aids no Estado de São Paulo.

Andrea é coordenadora do Núcleo Viver Jovem do GIV. Desde 1990, a ONG luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids e das populações mais vulneráveis à infecção. No decorrer dos anos, o perfil dos atendidos pela ONG mudou e a instituição foi se adaptando a nova realidade, sempre pensando no usuário e contribuindo para o crescimento e fortalecimento das respostas comunitárias de combate ao HIV/aids.

Essas transformações aconteceram também nos núcleos de trabalho com os jovens. O GIV recebeu os primeiros casos de mulheres, mães e crianças vivendo com HIV. Esse último grupo, infectado via transmissão vertical [de mãe para filho].   “O Viver Criança e Adolescente era um local seguro em que a criança podia falar sobre HIV, dava apoio para a mãe a também para família. Vários produtos saíram desse espaço, como CD, brinquedoteca e publicações”.

Segundo Andrea, nesse meio tempo, em 2001, foi criado o GT (Grupo de Trabalho) da Criança e do Adolescente do Fórum de ONGs/aids do Estado de São Paulo. Esse GT era a junção de várias ONGs que trabalhavam com crianças e adolescentes no estado. O principal objetivo era fortalecer a esse publico, as ONGs e instituições, além de articular os adolescentes e jovens do estado com os do Brasil.

“O GT apoiou os jovens nos encontros nacionais, o primeiro foi em 2006. Eu sou da época em que a gente fazia pelo jovem. Hoje, esse curso demonstra que nos passamos a fazer com os jovens. E é muito importante, essa parceria de fazer com o jovem”, disse Andrea.

Em 2008, o GIV junto com a Associação Civil Anima, fundada em 1994, idealizou e realizou o primeiro curso de Ativismo e Direitos Humanos. A atividade reuniu 34 jovens de 15 a 24 anos. De acordo com Andrea, foi lá onde surgiu a ideia dos jovens de criarem o que é hoje a Rede de Jovens. “Naquela época, eram os jovens da velha guarda: a Micaela, o Oseias, o Thompson, o Davide, e etc”, contou. E em 2009, no 4° Encontro Nacional, realizado em Curitiba, a Rede de Jovens foi legitimada.

“No decorrer dos anos, a epidemida mudou e a demanda dos frequentadores daquele espaço também. Na época, os adolescentes cresceram, casaram ou foram fazer outras coisas na vida. O perfil mudou, juntamente com o perfil da epidemia. Então, começaram a chegar espontaneamente, jovens de transmissão sexual, sendo a maioria gay. Hoje esse é o maior perfil do Viver Jovem: poucas meninas, maioria são jovens gays. O Viver continua sendo um local seguro, onde a gente preza sigilo e respeito às diferenças”, explicou Andrea.

Os principais objetivos do Viver é o acolhimento e o fortalecimento. O espaço é um lugar que os jovens conheçam os seus direitos, sejam fortalecidos e continuem a vida. “O jovem não vai resolver sozinho o problema do mundo ou o controle da epidemia. Muitas vezes, nesses cursos que reúnem vários jovens, existe uma força tremenda lá, mas quando o jovem volta pra casa, nas suas bases, eles estão sozinhos e não conseguem fazer muita coisa. Com isso, se sentem frustrados. Por este motivo que é importante trabalhar em Rede, com outras ONGs, serviços de saúde, pessoas vivendo, fóruns de ONGs/aids e outros movimentos: para conseguirem se fortalecer”, disse Andrea. “Cada jovens tem um perfil. Existem vários tipos de ativismo. Tem uns que tem o perfil mais político e outros de acolhimento. Alguns querem revelar a sua sorologia outros não. O mais importante é que cada um tem que descobrir o seu perfil, pois todos tem a sua importância”.

A transmissão vertical e medicação para criança

A psicoterapeuta da Anima, Renata Brandoli, também estava presente na mesa. A Anima é uma associação que nasceu das doações de cestas básicas que algumas senhoras faziam às famílias soropositivas. Hoje, 21 anos depois, ela atende 95 crianças e 80 jovens da comunidade, das parcerias com os abrigos, de liberdade assistida e outras ONG’s, em diversos projetos de educação, assistência e saúde. Da região onde está situada, são 160 familiares de crianças e jovens, além de 20 adultos de Casas de Apoio atendidos.

“No inicio do trabalho, basicamente, ela tornou-se uma casa de saúde para crianças vivendo com HIV. Trabalhávamos com a transmissão vertical. E estamos falando de uma era horrorosa, porque não se sabia quais eram os meios de infecção para o bebê, que se passava no parto e através do leite. Então, foram milhares de infecções no mundo inteiro”, a Renata.

Assim como dito em painéis anteriores, Renata concorda que a medicação sempre foi o maior problema para o cuidado das crianças com HIV. “São comprimidos enormes e de gosto muito ruins. Nós dávamos o medicamento e leite condensado em seguida para tentar minimizar toda aquela situação. Acreditávamos que as crianças teriam uma sobrevida, que morreriam logo. Mas, felizmente, elas crianças sobreviveram, cresceram e começamos a discutir o que fazer com essa criança na escola”.

A maioria das crianças, na época, atendidas pela Anima, se descobriram soropositivas na associação. “A gente começou a passar a ideia de que a criança teria que saber conviver com aids aos cinco anos. Foi muito importante crianças com 6 anos já saber de sua sorologia”.

Assim como no GIV, as crianças cresceram e o Anima reavaliou o trabalho que oferecia para elas.  “Começamos a trilhar um caminho de saúde e educação. Percebemos que deveríamos trilhar um caminho de integração. Hoje na Anima convivem pessoas ricas e pobres, soropositivas e negativas. Permitimos que as pessoas convivam com o sigilo. É a pessoa que vai dizer se quer ou não que as outras pessoas de sua sorologia. Mas todos sabem que somos uma ONG/aids e o acesso é livre”.

Renata também convidou os jovens a participarem do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids) e do Fórum de ONGs/Aids Do Estado de São Paulo (Foaesp): “Esses espaços precisam ser ocupados por jovens”.

Viva Melhor Sabendo Jovem

Jovens de 18 a 20 anos, oferecem e realizam teste rápido de HIV em seus pares (15 a 24 anos). Ou seja, jovens testando jovens. A estratégia Viva Melhor Sabendo Jovem é uma parceria da prefeitura de São Paulo, com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Viração. “Os jovens que oferecem os testes na estratégia receberam a mesma capacitação que os agentes de saúde da Secretária Municipal de Saúde fazem para oferecer testes rápido”, explicou Matheus Emilio, um dos agentes de saúde da estratégia.

Inaugurada na cidade, em outubro do ano passado, as atividades em campo começaram iniciaram em janeiro deste ano. Nesse período, 811 testes foram realizados, destes, 32 reagentes. A maioria dos testados, 74%, é a população HSH (homens que fazem sexo com homens).

“Estamos, prioritariamente, onde a população jovem HSH está porque é onde a epidemia está crescendo. Nós não damos diagnóstico, fazemos uma triagem. Se deu reagente, fazemos o encaminhamento para o serviço de saúde, lá a pessoa faz o confirmatório. Dos 32 casos reagentes que tivemos, todas iniciaram o tratamento. A gente se importa em acompanhar a pessoa até que ela comece o tratamento”, disse Matheus.

Diagnóstico Positivo

No dia a dia dos serviços especializados de São Paulo, não é todo o paciente com resultado positivo que tem o suporte do agente linkador como a acontece no Viva Melhor. De acordo com Andrea, em uma das reuniões do Mopaids, a coordenadora do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo, Maria Clara Gianna,, afirmou que  o tempo de espera mínimo para a primeira consulta, pós diagnostico positivo, é de dois meses. “E se o diagnostico foi tardio? Então, a estratégia de ter um linkador é uma sorte”, disse Andrea.

E não foi só o tempo de atendimento que fez parte das discussões dos jovens. Renan Moser, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (RNP+Brasil), também questionou a ausência de pesquisa sobre a qualidade da saúde.   “Questões que dizem respeito a minha saúde quanto paciente, ditas por mim, não são focos de uma pesquisa da unidade. Se o funcionário tratou o paciente mal, a pesquisa de satisfação mostraria que o paciente não está satisfeito com aquele posicionamento e como isso poderia ser resolvido”, afirmou Renan.

No período da tarde Roseli Tardelli, diretora da Agência de Notícias da Aids, conversou com os jovens a respeito do papel do jornalista na comunicação sobre HIV e aids. “Em 1996, mídia dava mais espaço para a aids. A gente precisa comunicar melhor, aprender a conversar com o jornalista para ganhar a pauta. Vocês podem fazer isso”.

A realização do curso é uma parceria da Rede de Jovens SP+ com a Coordenação Estadual de DST/Aids da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, com o apoio do Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, do Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids),  do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), do Fórum de ONGs Aids do Estado de São Paulo (Foaesp), da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids de São Paulo (RNP+SP), do Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas de São Paulo (MNCP-SP) e do Projeto Viva Melhor Sabendo Jovem.

Fonte: Daiana Bomfim / Agência de Notícias da Aids. Disponível em: <http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/25094> em 10/07/16.