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Por medo de injeção, jovem de 16 anos não tomou vacina e acabou com HPV

Mesmo sabendo dos riscos do HPV, o medo da injeção e a falsa sensação de que “nada de ruim poderia acontecer” fez com que uma paranaense de 16 anos deixasse de tomar a vacina contra o vírus causador de verruga genital, do câncer de colo de útero e de outros tipos de tumor. Três anos depois de conscientemente não seguir os conselhos da mãe para ser imunizada, a jovem descobriu que estava infectada.

“Procurei meu ginecologista por causa de um corrimento anormal. E ele detectou uma verruga genital ao coletar os exames preventivos”, contou a jovem, que pediu que seu nome não fosse divulgado. “Quando ele falou que estava com HPV, entrei em choque. Não sabia ao certo o que aquilo representava, mas tinha certeza que não era bom”, lembra ela, que chegou a temer a possibilidade de um câncer.

Por sorte, o tipo de vírus de sua infecção era de baixo risco e não causa câncer. Ainda assim a jovem de 16 anos teve de encara a cauterização da verruga e o uso de medicamentos específicos, além de receber a vacina para evitar a infecção por outros subtipos do papiloma vírus.

O caso da paranaense é comum. Segundo um estudo epidemiológico do Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira de 16 a 25 anos tem HPV, sendo que 38,4% dos infectados apresentam alto risco para o desenvolvimento de câncer.

A capital com a maior taxa de prevalência do vírus é Salvador, com 71,9% da população dessa faixa etária infectada. Em seguida, aparecem Palmas (61,8%), Cuiabá (61,5%) e Macapá (61,3%).

Na outra ponta da lista, com a menor prevalência está Recife, com índice de 41,2%. A cidade de São Paulo tem taxa de 52%, próxima do índice nacional.

Apesar das altas taxas de infecção, a cobertura da vacina contra o HPV ainda é bem baixa. Entre 2014 e 2017, apenas 48,2% das meninas de 9 a 15 anos foram imunizadas. Uma aceitação ainda menor entre os meninos de 12 a 13 anos, que foram incluídos na campanha de vacinação do SUS este ano. Entre eles, o índice foi de 28,3%. Cobertura muito inferior à meta do Ministério da Saúde, que era alcançar cerca de 80% do público-alvo da vacinação.

Para as doenças de vacinação infantil obrigatória, o Brasil tem uma cobertura de até 95%. A vacina de menor cobertura é a de tríplice bacteriana (contra difteria, tétano e coqueluche), com 64,73% de aceitação, seguida da de Hepatite A (71,57%).

Com as sobras da vacina contra HPV e para evitar desperdícios do estoque que estava prestes a vencer, em agosto deste ano, o governo chegou até a ampliar a campanha de vacinação contra o vírus para homens e mulheres com até 26 anos.

Mas essa baixa adesão não é uma exclusividade do Brasil. Japão, Irlanda e Dinamarca são alguns dos países mundo afora a testemunharem a queda das taxas de aceitação da vacina.

Para Edison Natal Fedrizzi, chefe do Centro de Pesquisa Clínica “Projeto HPV” da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), há três principais motivos que explicam a rejeição à vacina.

“O primeiro deles é a falta de orientação médica a esses jovens, que, nessa fase, acabando não mais sendo acompanhados pelo pediatra nem mesmo por ginecologistas ou urologistas”, afirma o especialista, que também cita os boatos contrários à imunização e a dificuldade que muitos pais tem de levar os filhos para receber a proteção. “Voltar a aplicar as vacinas nas escolas é uma importante estratégia para reverter esses índices.”

O problema maior, como aponta Fedrizzi, está na aplicação das doses extras da vacina, onde a aceitação é ainda menor. “Há muitas meninas que chegaram a tomar a primeira dose, mas não voltaram para tomar o reforço”, alerta ele, que explica que a vacina contra o vírus é aplicada em duas doses –para meninos e meninas de 9 a 14 anos– ou três –para pessoas acima de 15 anos ou imunossuprimidas (com câncer, HIV, entre outras doenças).

Para quem tomou apenas uma das doses da vacina, o médico explica que sempre há tempo. “A vacinação é um processo que só se completa, nunca se reinicia. Ou seja, mesmo que você demore a tomar a segunda dose, não será preciso repetir a primeira.”

Fonte: Agência de Notícias da Aids. Disponível em:<http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/27128> em 11/12/17.