Há 30 anos o Brasil se destaca na luta contra a Aids. O país foi um dos primeiros do mundo a adotar políticas públicas inclusivas e universais. Em 1985, o governo criou o Programa Nacional de DST e Aids para gerir a política de combate à então recente epidemia no país. Segundo o coordenador do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, as ações iniciais foram baseadas na experimentação e no combate ao preconceito. “Os primeiros casos de aids registrados no mundo começaram em 1981. Naquela época, a doença gerou uma série de dúvidas e questionamentos. Percebia-se que ela acometia principalmente alguns grupos da população, como os homossexuais. Tinha uma evidência física muito grande que se manifestava em lesões na pele. Em 82 aparecem os primeiros casos no Brasil”, conta.
Em 1985, a doença já tinha dimensão nacional e uma caracterização de uma doença que acontecia em vários lugares do mundo. Naquele ano, o setor de dermatologia sanitária que existia no Ministério da Saúde organizou uma equipe para compilar os dados e começar a estruturar o que poderia ser feito. Isso deu início à resposta nacional contra a AIDS em maio de 1985.
Em 1987, o atual coordenador do departamento era um jovem médico trabalhando em uma unidade de saúde pública de Santos (SP), considerada na época a capital da Aids no Brasil. “A região tinha na época a maior quantidade de contágio em relação à população. O porto de Santos, que era o maior exportador do país, tinha algumas características importantes que colaboravam para o alto contágio. Tanto pela prostituição que acontecia por causa dos navios como o consumo de cocaína injetável”. Pioneiramente, a região foi a primeira a distribuir seringas descartáveis para os usuários de drogas para evitar o contágio.
Fábio conta que rapidamente se apaixonou e abraçou a causa. “Os pacientes tinham histórias de vida incríveis e do ponto de vista clínico a doença ensinava muito. Sabíamos algumas formas de transmissão, como a sexual, pelo sangue, mas não tínhamos informações completas se era transmitida profissionalmente, se ele espirrasse, por exemplo. Existia um certo pânico”, relembra.
Com o avanço das pesquisas, em 1996 o governo brasileiro assegurou o acesso universal ao tratamento com medicamentos antirretrovirais a todos os portadores do HIV pelo Sistema Único de Saúde. A chegada dos antirretrovirais possibilitou a melhoria da qualidade de vida e o aumento da sobrevida dos pacientes com aids, além de ajudar a reduzir a disseminação da epidemia. “Paulatinamente o tratamento foi introduzido no Brasil. Até 1996, não tínhamos muitas alternativas além do AZT. No final de 96 o Congresso Nacional fez a proposta de lei que obrigou o sistema de saúde a fornecer o tratamento. Esta proposta aprovada forçou o Brasil a fornecer medicamento para todo mundo que precisasse”, conta Fabio. Em 2011 estudos concluíram que o impacto para a população foi muito além do que apenas a saúde do paciente. O tratamento universal teve um impacto também na prevenção. Quando a pessoa que tem uma grande carga de vírus circulantes é tratada, o remédio diminui a quantidade de vírus, dificultando a transmissão.
Em 2005, foi implementado o teste rápido de HIV, com resultado pronto em 30 minutos. Em 2008, o exame passou a ser 100% nacional e, desde então, foram distribuídos cerca de 22 milhões de testes rápidos. Em 2014, o Brasil introduziu o teste oral produzido nacionalmente, capaz de realizar o exame de HIV em 15 minutos. Outro avanço marcante foi o novo protocolo de tratamento da doença lançado em 2013. A partir daquele momento, todas as pessoas com testagem positiva começam imediatamente o tratamento.
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) reconheceu o Brasil como referência mundial nas ações de controle do HIV/aids. O objetivo de alcançar 15 milhões de pessoas em tratamento para o HIV no mundo foi alcançado nove meses antes do prazo. Atualmente, o tratamento no Brasil é mais eficiente que a média global. As mortes em decorrência do vírus HIV caíram a uma taxa anual de 2,3% entre 2000 e 2013, enquanto a média global apresenta uma queda de 1,5% ao ano. O SUS oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para os pacientes soropositivos. Desse total, 12 são produzidos no Brasil. Atualmente, a rede de atendimento dispõem 518 Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), 712 Serviços de Assistência Especializada (SAE) e 724 Unidades de Distribuição de Medicamentos (UDM).
O Ministério da Saúde também pretende cumprir, até 2020, a meta estabelecida pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids) e pela Organização Mundial da Saúde, conhecida como 90-90-90. O objetivo é testar 90% da população brasileira e, das pessoas que apresentarem resultado positivo, tratar 90%. Como resultado, conseguir que 90% das pessoas tratadas apresentem carga viral indetectável.
Fonte: Gabriela Rocha/ Blog da Saúde